No último domingo, o programa Fantástico, da Rede Globo, divulgou uma investigação aprofundada sobre a empresa MedTrauma Serviços Médicos Especializados Ltda, responsável pela administração da ala ortopédica em hospitais públicos de três estados brasileiros. As denúncias levantadas pela equipe de reportagem revelam uma série de irregularidades, incluindo superfaturamentos, cirurgias desnecessárias e falta de informações sobre próteses implantadas em pacientes.
A investigação teve acesso a documentos que comprovam a prática de superfaturamentos em cirurgias ortopédicas, além de revelar que pacientes, mesmo após procedimentos, não receberam informações adequadas sobre as próteses utilizadas em seus corpos. Além disso, suspeitas apontam que a empresa, denominada MedTrauma, integra um cartel de empresas médicas envolvidas em manipulações de contratos com a saúde pública em Mato Grosso durante a pandemia, sendo três dos 15 médicos atualmente réus em processo.
Em uma chocante mensagem de áudio, um dos médicos envolvidos na MedTrauma confessa ter internado pacientes que não necessitavam de cuidados intensivos apenas para garantir 100% de ocupação em leitos de UTI. Outras mensagens indicam que pacientes eram mantidos nas UTIs por mais tempo do que necessário, visando aumentar os ganhos financeiros da empresa. Foram gastos mais de 90 milhões de reais com as empresas do grupo que atenderam com serviços de UTIS no estado, incluindo as cidades de Sinop e Sorriso.
As investigações da Polícia Judiciária Civil (PJC) apontam que as manipulações começaram no Hospital Metropolitano de Várzea Grande, identificando fraudes e desvios de recursos públicos que deram início a uma operação policial. Embora a denúncia tenha sido ajuizada em dezembro, as investigações ainda estão em andamento.
A MedTrauma, além de estar sob suspeita de participar de um cartel de manipulação de contratos, é alvo de denúncias relacionadas a contratos sem licitação. Um exemplo é o caso do caminhoneiro Eduardo Goivinho, que, após uma cirurgia no quadril ordenada pela Justiça do Mato Grosso, descobriu que a prótese implantada não correspondia ao determinado pela juíza. O contrato, baseado em uma Ata de Registro de Preços, permitiu à empresa fornecer materiais ortopédicos a preços questionáveis.
Autoridades investigam também denúncias de superfaturamento nos estados do Acre e Roraima, para onde práticas irregulares da MedTrauma foram exportadas. Segundo Vinícius Marques de Carvalho, Ministro da Controladoria Geral da União, contratos legais podem se tornar ilegais se utilizados para superfaturar serviços, possivelmente disseminando esquemas ilegais para outros locais.
No dia 2 de fevereiro, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão nas sedes da MedTrauma e empresas do seu grupo. A defesa da empresa alega transparência em seus contratos e destaca que a empresa tem “orgulho do serviço que presta”. No entanto, pacientes afirmam não ter recebido informações essenciais sobre as próteses utilizadas em suas cirurgias, gerando dúvidas sobre a conduta ética da empresa.