Família de jornalista foi avisada por embaixador brasileiro sobre corpos, diz jornal inglês; PF nega

Uma reportagem publicada nesta segunda-feira (13) pelo jornal britânico The Guardian afirma que dois corpos foram encontrados nas proximidades da Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas, onde estão desaparecidos o repórter Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira desde o último dia 5.

De acordo com o jornal, a informação teria sido dada aos familiares do jornalista na manhã desta segunda-feira pelo embaixador do Brasil no Reino Unido. A Polícia Federal e a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) negam o encontro dos corpos (veja nota oficial ao fim deste texto). A Embaixada do Reino Unido no Brasil também não confirmou a informação. A reportagem entrou em contato com a embaixada brasileira em Londres e com o Itamaraty e aguarda resposta.

Segundo o jornal britânico, o cunhado de Phillips, Paul Sherwood, revelou que o embaixador brasileiro telefonou para a família e informou que os corpos haviam sido encontrados na floresta. “Ele não descreveu o local, disse que eles estavam amarrados a uma árvore e ainda não haviam sido identificados.”

No Twitter, o jornalista Tom Phillips, correspondente do The Guardian na América Latina, também disse que a informação publicada pelo jornal não tinha sido confirmada. “Beto Marubo, um importante líder indígena do Javari, acaba de me dizer que os buscadores indígenas NÃO confirmaram a descoberta de dois corpos no local de busca”, escreveu. Apesar de ter o mesmo sobrenome de Dom Phillips, os repórteres não são parentes.

Neste domingo (12), a PF informou que as equipes de buscas encontraram um estômago humano no rio Itaquaí, em Atalaia do Norte (AM). O órgão foi enviado ao Instituto Nacional de Criminalística, a fim de se descobrir se pode ser de um dos desaparecidos.

Ameaçados na Amazônia
Bruno é indigenista especializado em povos indígenas isolados e conhecedor da região, onde foi coordenador regional por cinco anos. Já Phillips mora em Salvador, na Bahia, e faz reportagens sobre o Brasil há 15 anos para o New York Times e o Washington Post, bem como para o jornal The Guardian.

Eles foram vistos pela última vez na comunidade São Rafael, nas proximidades da entrada da Terra Indígena Vale do Javari. Os dois viajavam em uma embarcação nova, com 70 litros de gasolina — o suficiente para o percurso — e sete tambores vazios de combustível. Por volta das 6h do domingo, chegaram à comunidade, onde encontrariam uma liderança local. Sem conseguirem falar com o morador, decidiram voltar a Atalaia do Norte, viagem que deveria durar cerca de duas horas. Contudo, não chegaram à cidade.

Dias antes do desaparecimento, um bilhete apócrifo com ameaças dirigidas ao servidor e a líderes indígenas foi deixado no escritório de advocacia que representa a organização para a qual ele vinha trabalhando voluntariamente, em Tabatinga (AM).

“Sei quem são vocês e vamos achar para acertar as contas”, diz um trecho do bilhete endereçado ao advogado Eliesio Marubo. “Sei que quem é contra nós é o Beto Índio, e o Bruno da Funai é quem manda os índios irem prender nossos motores e tomar os nossos peixes. (…) Se querem dar prejuízo, melhor se aprontarem. Está avisado.”

O servidor da Funai estava licenciado após ser exonerado da chefia da Coordenação de Índios Isolados e de Recente Contato, em 2019. Ele foi dispensado do cargo logo depois de uma operação que expulsou garimpeiros da Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Na ocasião, um helicóptero que servia ao garimpo foi apreendido.

Vale do Javari
Com 8,5 milhões de hectares, a Terra Indígena Vale do Javari é palco de conflitos que envolvem garimpo, extração de madeira, pesca ilegal e narcotraficantes. A área fica no extremo oeste do Amazonas, na fronteira com o Peru, abriga ao menos 14 grupos isolados — a maior população indígena não contatada do mundo — e tem acesso restrito, feito apenas por avião ou barco.

São Rafael é, inclusive, a última vila antes do limite indígena demarcado pelo governo federal em 2001. É a delimitação do fim da sociedade não indígena e o início da sociedade indígena, marcada por conflitos que se arrastam há décadas na região. Com o aumento da pressão fundiária na região, São Rafael se tornou também o ponto de partida para a entrada de invasores no território indígena, principalmente pescadores e caçadores ilegais.

Fontes em Atalaia do Norte relataram que Bruno conhece bem a região e sabe que a comunidade abriga desafetos dos indígenas. “Não sabemos por que ele foi a São Rafael acompanhado de um jornalista estrangeiro sozinho, sem escolta. Ele estava com indígenas poucas horas antes, por que ele não levou os indígenas com ele? A gente não sabe se foi um lapso do Bruno, ele conhece tudo tão bem para cometer um vacilo”, comentou uma fonte que preferiu não se identificar.

O servidor da Funai estava licenciado após ser exonerado da chefia da Coordenação de Índios Isolados e de Recente Contato, em 2019. Ele foi dispensado do cargo logo após uma operação que expulsou garimpeiros da Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Na ocasião, um helicóptero que servia ao garimpo foi apreendido.

Desde então, Bruno Pereira trabalhava assessorando a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava). Foi a organização que fez o alerta sobre o desaparecimento do indigenista e do jornalista inglês, na segunda-feira (6), quase 24 horas depois do desaparecimento da dupla.

Ataques
Nos últimos anos, a principal base da Funai no município, a que fica no rio Ituí-Itacoaí, foi alvo de diversos ataques a tiros. Em um ano, entre novembro de 2018 e dezembro de 2019, houve oito investidas contra o posto, que culminou na morte do indigenista Maxciel Pereira dos Santos, também colaborador da Funai. Dias antes, ele tinha recebido ameaças de morte de caçadores por sua atuação em defesa da terra indígena.

Se a leste da Terra Indígena a pressão é de pescadores, a oeste, na fronteira com o Peru, o Vale do Javari é pressionado por garimpeiros em busca de ouro e narcotraficantes. Nessa porção da terra, às margens do rio Jutaí, os grupos de indígenas isolados convivem com o avanço de garimpeiros.

Operações de buscas
Ainda no domingo, às 14h, a primeira equipe de buscas da coordenação indígena saiu de Atalaia e cobriu o mesmo trecho que os dois teriam percorrido, mas nenhum vestígio foi encontrado. Mais tarde, às 16h, outra equipe, com uma embarcação maior, saiu do município de Tabatinga, retornando ao mesmo local, mas novamente nenhum vestígio foi encontrado.

Na segunda-feira (6) pela manhã, a Marinha enviou uma equipe de busca e salvamento para Atalaia do Norte para auxiliar nas buscas à embarcação usada pelo jornalista e pelo servidor da Funai. Sete militares da Marinha, com auxílio de uma lancha, atuam nas atividades de busca. Nesta terça-feira (7), as buscas continuam com o auxílio de um helicóptero, duas embarcações e uma moto aquática

O governo do estado também disponibilizou um helicóptero, barcos e mergulhadores para reforçar as buscas, e a Polícia Federal atua nas investigações do caso. Ontem, a corporação ouviu duas testemuhas, que prestaram depoimento e foram liberadas. Elas foram as últimas pessoas a ter contato com o indigenista e o jornalista britânico, segundo informações da polícia.

O desaparecimento
Bruno e Dom saíram de Atalaia do Norte para visitar a equipe de vigilância indígena do lago do Jaburu na sexta-feira (3). Eles deveriam ter voltado ao município no último domingo pela manhã, o que não aconteceu.

Os dois viajavam em uma embarcação nova, com 70 litros de gasolina — o suficiente para o percurso — e sete tambores vazios de combustível. Por volta das 6h do domingo, eles chegaram à comunidade São Rafael, onde encontrariam uma liderança local. Sem conseguirem falar com o morador, decidiram voltar a Atalaia do Norte, viagem que deveria durar cerca de duas horas. Contudo, não chegaram à cidade.

Bruno é indigenista especializado em povos indígenas isolados e conhecedor da região, onde foi coordenador regional por cinco anos. Já Phillips mora em Salvador, na Bahia, e faz reportagens sobre o Brasil há 15 anos para o New York Times e o Washington Post, bem como para o jornal The Guardian.

Segundo informações divulgadas pelo The Guardian, a embaixada britânica no Brasil também acompanha o caso. “O Guardian está muito preocupado e busca urgentemente informações sobre o paradeiro e as condições de Phillips. Estamos em contato com a embaixada britânica no Brasil e autoridades locais e nacionais para tentar apurar os fatos o mais rápido possível”, diz a nota.

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