Duas mulheres apontadas como integrantes do alto escalão de uma facção criminosa foram presas após passarem anos foragidas no Rio de Janeiro; uma delas é acusada de iniciar a guerra entre grupos rivais que resultou em mais de 100 homicídios em Sorriso desde 2022
Duas mulheres acusadas de integrarem o alto escalão de uma facção criminosa atuante em Mato Grosso foram presas após ação conjunta da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) e da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO). As suspeitas, que estavam foragidas no Rio de Janeiro, são apontadas como protagonistas de uma das fases mais violentas da criminalidade em Sorriso, com envolvimento direto em mais de 100 homicídios ocorridos desde 2022.
Segundo a Polícia Civil, uma das detidas já havia sido presa em 2022, mas foi colocada em liberdade por estar grávida. Pouco tempo depois, rompeu o monitoramento da prisão domiciliar e fugiu para o Rio, onde permaneceu escondida por três anos. Ela foi localizada e capturada junto com outra mulher, esposa de um dos chefes do crime organizado no estado. Esta segunda suspeita, de acordo com o delegado Bruno França, faz parte de uma família historicamente envolvida em atividades ilícitas — mãe e irmã também possuem histórico criminal, sendo que a irmã tem três mandados de prisão por homicídios em aberto.
A primeira presa, de acordo com França, teve papel crucial na deflagração da guerra entre facções que assolou Sorriso a partir de abril de 2022. Ela e o então companheiro teriam implantado uma “gestão do terror” no município, marcada por assassinatos, execuções sumárias e repressão interna dentro da própria organização. “Ela não apenas comandava o tráfico, como também ordenava mortes e aplicava punições violentas aos próprios membros da facção, gerando instabilidade interna e o surgimento de um novo grupo criminoso”, relatou o delegado.
A instabilidade criada por essa gestão desorganizada, segundo a investigação, levou à cisão dentro do grupo, resultando na fundação de uma nova facção, que acabou se unindo a rivais e intensificando o conflito armado nas ruas de Sorriso.
Mesmo afastada do comando direto da facção desde 2023, a mulher seguia ligada ao tráfico de drogas e continuava exercendo influência na estrutura da organização. “Ela ainda mantinha vínculos com o alto escalão. Esperamos que desta vez permaneça sob custódia e que a Justiça compreenda a gravidade de sua atuação”, afirmou Bruno França.
O delegado também fez críticas às políticas penais brasileiras que, segundo ele, dificultam a prisão de mulheres envolvidas em crimes graves, especialmente aquelas que têm filhos. “A maternidade não pode ser escudo para o crime. Infelizmente, essa permissividade tem incentivado o protagonismo feminino no comando de organizações criminosas”, finalizou.