Além de drogas, lobista e ex-secretário venderam insumos da Covid-19

O ex-secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação (Seciteci), Nilton Borges Borgato, comercializava equipamentos e insumos que são utilizados no tratamento do novo coronavírus (Covid-19) com a mesma quadrilha que atuava no tráfico internacional de drogas. Ele é um dos alvos da operação “Descobrimento”, deflagrada pela Polícia Federal na última terça-feira (19), que revelou sua participação em “remessas” de cocaína à Europa.

De acordo com as investigações, o ex-secretário comercializava respiradores e máscaras, para tratamento e prevenção do Covid-19, ao lado do lobista Rowles Magalhães (também alvo da operação Descobrimento). Ambos foram presos no último dia 19 de abril.

Conforme revelou a PF, o “comércio” de insumos para combate a pandemia ocorria de forma concomitante ao tráfico internacional de drogas. Um sócio do lobista, identificado como Ricardo Agostinho, e a doleira Nelma Kodama – que mantinha um relacionamento amoroso com Rowles -, também atuavam na venda de respiradores e máscaras.

Na decisão que autorizou a deflagração da operação “Descobrimento”, proferida pelo juiz substituto da 2ª Vara Federal Criminal da Seção Judiciária da Bahia, Fábio Roque da Silva Araújo, o lobista Rowles Magalhães, e seu sócio, Ricardo Agostinho, também tinham uma parceria de negócios na Omni Executive Aviation. A empresa possui sede em Portugal, e atua no setor de transporte privado por meio de jatinhos.

A operação “Descobrimento” revelou que a droga, que entrava no país por meio de um traficante paraguaio, era transportada do Brasil à Portugal em voos fretados de jatos particulares.

“Ricardo Agostinho, com prisão preventiva já decretada por este Juízo, segundo consta das investigações, é amigo e supostamente sócio de Rowles Magalhães em diversos negócios, desde o comércio de produtos da pandemia da COVID19, à aquisição da empresa de jatos executivos portuguesa OMNI e tráfico internacional de drogas. Organiza, juntamente com Rowles, os voos internacionais do Brasil à Europa para o tráfico de entorpecentes”, diz trecho da decisão do juiz federal.

Na mesma linha, segundo as investigações, Nilton Borges Borgato, que tinha o codinome de “Índio” dentro da suposta quadrilha, também comercializava os insumos e equipamento de combate a pandemia – além do tráfico internacional.

“De acordo com as investigações, precisamente da leitura do teor dos dados telemáticos, Nilton atuou, juntamente com Rowles, Kodama e Ricardo Agostinho, no comércio de produtos da COVID-19, como respiradores, máscaras e testes. Segundo a PF, seu apelido dentro da ORCRIM é Índio, e em conluio com os demais integrantes, também atuou diretamente no tráfico de internacional de entorpecentes”.

Os autos não revelam se Nilton Borgato intermediou aquisições de respiradores e máscaras junto ao Governo de Mato Grosso. O lobista e seu sócio, a doleira, além do ex-secretário da Seciteci, foram presos na última terça-feira durante a deflagração da operação.

OPERAÇÃO DESCOBRIMENTO

A Polícia Federal deflagrou, na última terça-feira a operação “Descobrimento”, com o objetivo de desarticular uma organização criminosa especializada no tráfico internacional de cocaína.

Foram cumpridos 43 mandados de busca e apreensão e sete mandados de prisão preventiva nos estados da Bahia, São Paulo, Mato Grosso, Rondônia e Pernambuco. Em Portugal, com o acompanhamento de policiais federais, a polícia portuguesa cumpre três mandados de busca e apreensão e dois mandados de prisão preventiva nas cidades do Porto e Braga.

As investigações tiveram início em fevereiro de 2021, quando um jato executivo Dassault Falcon 900, pertencente a uma empresa portuguesa de táxi aéreo, pousou no aeroporto internacional de Salvador/BA para abastecimento. Após ser inspecionado, foram encontrados cerca de 595 kg de cocaína escondidos na fuselagem da aeronave.

A partir da apreensão, a Polícia Federal conseguiu identificar a estrutura da organização criminosa atuante nos dois países, composta por fornecedores de cocaína, mecânicos de aviação e auxiliares (responsáveis pela abertura da fuselagem da aeronave para acondicionar o entorpecente), transportadores (responsáveis pelo voo) e doleiros (responsáveis pela movimentação financeira do grupo).

As medidas judiciais foram expedidas pela 2ª Vara Federal de Salvador/BA e pela Justiça portuguesa. A Justiça brasileira também decretou medidas patrimoniais de apreensão, sequestro de imóveis e bloqueios de valores em contas bancárias usadas pelos investigados.

No curso das investigações, a PF contou com a colaboração da DEA (Drug Enforcement Administration – Agência norte-americana de combate às drogas), da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da Polícia Judiciária Portuguesa e do Ministério Público Federal.

Veja também

Mulher é encontrada morta em apartamento no Bairro Santa Isabel, em Cuiabá

Operação Policial resulta na prisão de suspeito com mandado em aberto no bairro Novos Campos

Investigação revela falta de registro das armas utilizadas em homicídio em Peixoto de Azevedo

Grupo criminoso é preso em flagrante adulterando carga de 50 t de farelo de soja que iria para porto em SC

Operação Policial desmantela ponto de tráfico de drogas na zona rural de Sorriso

Polícia Civil prende homem investigado por estupro de vulnerável contra filha e enteada