Prova do concurso da Sesp teria vazado mais de um mês antes da aplicação

O concurso da Segurança Pública de Mato Grosso, alvo de diversas denúncias de irregularidade, teria tido a prova vazada mais de um mês antes da sua aplicação. A denúncia foi feita nesta terça-feira (22) por um dos candidatos ao cargo de soldado da Polícia Militar, que disse ter encontrado o caderno de provas na internet, disponibilizado desde o dia 11 de janeiro.

A denúncia foi feita ao Primeira Página e à TV Centro América. Em checagem, as reportagens compararam o caderno de prova aplicado no dia 20 de fevereiro e constataram que seu conteúdo é 100% compatível. Todas as questões aplicadas no dia do concurso são idênticas as que estavam abrigadas no portal de concursos da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), a organizadora do certame.

O denunciante, que preferiu não se identificar e não registrar boletim de ocorrência para também se preservar, entregou as supostas provas à Comissão de Segurança da Assembleia Legislativa. A expectativa é que a Casa acione o Ministério Público e o Governo do Estado para que providências sejam tomadas.

“Hoje, por volta das 10h, recebemos alguns vídeos e imagens de vazamento da prova realizada pela UFMT. Esse vazamento já está na internet desde o dia 11 de janeiro de 2022. Diante desses fatos, estamos trazendo aqui na Assembleia, pedindo apoio para os deputados para que esse concurso atinja o objetivo dele, que é atender a sociedade. Então, todos esperam que o concurso seja legítimo e que tenha o princípio da proporcionalidade e da razoabilidade. Nós identificamos que não atende nenhuma finalidade, e sim, tem caráter eleitoral”.

Concurso pode ser anulado

Mesmo antes da denúncia de vazamento da prova, o concurso já era alvo de pedido de anulação. A polêmica, que já vinha se desenrolando, tomou grandes proporções após deputados estaduais pedirem providências aos secretários de Segurança Pública e Casa Civil, Alexandre Bustamante e Mauro Carvalho, respectivamente.

A deputada Janaina Riva (MDB) solicitou a anulação do certame e aplicação de novas provas, e Elizeu Nascimento (PL) fez um pedido de investigação formal. Ambos os parlamentares elencaram sete fatos que precisam de apuração:

  • Pagamento realizado sem identificação no sistema, incorrendo na exclusão indevida do candidato na lista de divulgação do local de prova;
  • Candidato que efetuou pagamento e não foi permitido realizar a prova, sob a justificativa de limitação de idade;
  • Problema de identificação de candidatos na prova (ausência de coletor de digitais);
  • Uso de equipamentos eletrônicos em sala e no banheiro;
  • Inexistência de fiscalização para o porte indevido de equipamentos eletrônicos;
  • Prisão de um cidadão na cidade de Cáceres por suspeita de estar realizando a prova no lugar de candidato inscrito;
  • Fotos circulando nas redes sociais de imagens da sala de aula.

“A gente busca que o governo se posicione quanto a esse vazamento, e que eles apurem. A Perícia Técnica do Estado precisa agir, assim como o Ministério Público e a Assembleia Legislativa. No contexto geral, nós que fizemos o concurso, e a sociedade, estamos perplexos com essa situação”, disse o denunciante. “Vamos nos reunir com a Comissão de Segurança da Casa para ver o que será feito”, completou.

Teve até prisão em local de prova

Quatro pessoas foram presas. Entre elas, um professor de cursinho, que também é agente penitenciário. Ele foi preso em flagrante por suspeita de tentativa de fraude durante a prova, em Cáceres. O suspeito foi localizado usando documentos de um candidato, que fazia a prova em outra sala. Além deles, outros dois candidatos foram detidos após o professor confessar que também faziam parte do esquema.

O MPE recebeu mais de 30 denúncias de irregularidades durante a aplicação das provas. Entre os erros estariam a ausência de detectores de metal, celular vibrando em sala de aula e pessoas tirando fotos no local da prova.

A Sesp (Secretaria Estadual de Segurança Pública), responsável pela realização do concurso, informou que a aplicação das provas ficou sob responsabilidade da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), contratada para o serviço.

As provas do concurso público das forças de segurança de Mato Grosso tiveram mais de 66 mil pessoas inscritas.

Mais polêmicas

O concurso para preencher 11 cargos diferentes destinados à Polícia Militar, Corpo de Bombeiros Militar, Polícia Judiciária Civil e Politec, tem dado o que falar desde o edital.

Entre outros documentos, o edital pedia que os candidatos apresentassem exame de HIV antes da participação na prova de aptidão física e barrava candidatos que não possuam dentes.

O que diz a UFMT

O portal procurou a UFMT, que disse que está checando a situação e que vai se posicionar quando tiver resposta.

OAB alerta para possível anulação

O presidente da Comissão de Direito Administrativo da OAB-MT, Thiago França, afirmou que a partir da comprovação das denúncias, há a possibilidade de que o governo do estado anule o concurso ou ainda que a própria UFMT resolva anular o certame. Neste caso, porém, cabe à universidade arcar tanto com os custos relativos a uma nova aplicação das provas quanto a possíveis indenizações.

“Obviamente cabe a cada candidato que se sente prejudicado fazer esse tipo de registro, esse tipo de denúncia. É importante deixar claro que o estado contratou a UFMT para execução do concurso. Quando eu falo execução do concurso estou envolvendo não só a elaboração da prova, mas também a condução, a fiscalização, a organização do concurso. Em termos de responsabilidade, havendo responsabilidade, obviamente que a responsabilidade é da UFMT”, afirmou.

Ainda segundo ele, o estado responderia subsidiariamente. “O estado responderia subsidiariamente. Só que todo esse tipo de situação e de cenário vivenciado por algum candidato possivelmente prejudicado precisa ser demonstrado para que ele possa ter os prejuízos sanados em termos de indenizações. Uma outra possibilidade é da UFMT assumir a responsabilidade e anular o concurso, só que neste caso a universidade teria que arcar com o custo, tanto de fazer uma nova prova quanto de possíveis indenizações”, alertou.

Veja também

Polícia Militar prende homem após confessar morte em Ipiranga do Norte

Politec descarta ataque de onça e confirma sinais de tiros e facadas em corpo de caseiro

Mulher é encontrada morta em apartamento no Bairro Santa Isabel, em Cuiabá

Operação Policial resulta na prisão de suspeito com mandado em aberto no bairro Novos Campos

Investigação revela falta de registro das armas utilizadas em homicídio em Peixoto de Azevedo

Grupo criminoso é preso em flagrante adulterando carga de 50 t de farelo de soja que iria para porto em SC