Justiça negou em abril internação por ‘problemas psiquiátricos’ de bolsonarista que matou colega por discussão política em MT

O bolsonarista Rafael Silva de Oliveira, de 24 anos, que matou Benedito Cardoso dos Santos após uma discussão sobre política em Confresa, cidade distante 1.160 km de Cuiabá, no dia 7 de setembro, teve um pedido de internação compulsória por problemas psiquiátricos negado pela Justiça em abril deste ano. Na briga que levou ao crime, o autor defendia o presidente e candidato à reeleição, Jair Messias Bolsonaro (PL), e a vítima, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A sentença que negou a internação compulsória – ou seja, contra a vontade da pessoa – foi proferida pelo juiz José Luiz Leite Lindote, da Vara Especializada da Saúde da Comarca de Várzea Grande. Contudo, a ação teve início em 2020, após a irmã de Rafael ter acionado a Defensoria Pública.

No processo, o defensor público Cláudio Aparecido Souto cita que o bolsonarista tem problemas psiquiátricos causados pela esquizofrenia, faz uso de medicamento e apresenta atitudes “agressivas e descontroladas”. Por isso, solicita que ele seja internado no Centro Integrado de Assistência Psicossocial “Adauto Botelho” ou, na impossibilidade, que o estado custeie o tratamento em clínica particular.

Consta ainda que o médico Werley Peres apontou em laudo que Rafael apresenta quadro de surto psicótico grave “com delírio preventivo e ideias homicidas”. “Nos últimos tempos [Rafael] tem-se comportado de forma agressiva, apresentando agitação psicomotora. O quadro coloca o risco de vida o próprio e terceiros, necessitando internação hospitalar urgente”, cita.

Ainda segundo os autos, Rafael era atendido por uma unidade de atendimento psicossocial municipal. Entretanto, os tratamentos não surtiram os efeitos desejados e o médico prescreveu a internação que, segundo consta no processo, tinha apoio da família de Rafael. Não há informações no processo sobre as datas em que os atendimentos aconteciam.

O documento diz que Rafael “corre risco de vida, coloca os familiares em riscos e a população em geral, devendo ser internado com urgência”, aponta o defensor. O pedido era para que o bolsonarista permaneça internado por tempo indeterminado.

O processo cita também que Rafael acumula passagens por tentativa de latrocínio e estelionato com falsificação de documentos.

Na sentença, o juiz considerou o pedido “imprudente” por entender que a internação em clínica psiquiátrica, contra a própria vontade e em meio à pandemia, colocaria Rafael em risco.

Apurações
Nesta segunda-feira, o delegado Victor Oliveira, responsável pelas investigações sobre o assassinato, interrogou mais uma testemunha: o empregador de Rafael. A identidade dele não foi divulgada.

“Ele disse que o autor era uma pessoa tranquila, calma e não falava de política no trabalho. Trabalhava bem e não demonstrava possuir nenhum transtorno mental”, relatou o delegado sobre o depoimento.

Oliveira, na sexta-feira (9), havia relatado que o autor se apresentava lúcido e tinha consciência do crime cometido, quando foi preso. No mesmo dia, o delegado interrogou um amigo de Rafael, a quem ele mostrou um vídeo do corpo da vítima no celular, pediu ajuda para fugir e, diante da negativa, disse que teria “feito besteira” e entregou o telefone depois de formatá-lo. O aparelho será periciado.

Ainda conforme o delegado, a previsão é de que os laudos técnicos de necropsia e do local do crime sejam concluídos nesta semana.

O crime

O bolsonarista Rafael Silva de Oliveira, de 22 anos, se desentendeu com o colega de trabalho Benedito Cardoso dos Santos, de 42 anos, apoiador do ex-presidente Lula, e o matou com ao menos 15 golpes de faca e machado. O crime ocorreu em uma chácara em Agrovila, zona rural de Confresa, cidade a 1.160 km da capital Cuiabá, na noite de 7 de setembro.

Segundo o delegado, os dois homens trabalhavam juntos no corte de lenha em uma propriedade e começaram a discutir sobre política.

“O que levou ao crime foi a opinião política divergente. A vítima estava defendendo o Lula, e o autor defendendo o Bolsonaro”, disse o delegado.

Ainda de acordo com a Polícia Civil, Benedito deu um soco no rosto de Rafael e, em seguida, pegou uma faca. O autor do crime, então, partiu para cima da vítima e tomou para si a arma branca.

Também conforme a versão apresentada pelo delegado, Benedito teria corrido e Rafael o perseguiu e começou a golpeá-lo pelas costas. A vítima caiu no chão, momento em que o autor aproveitou para acertá-la com golpes no olho, no pescoço e na testa.

De acordo com o delegado, Rafael foi até um barracão pegar um machado e voltou até Benedito, que ainda estava vivo, e o acertou no pescoço, na tentativa de decapitá-lo.

O autor escondeu as armas do crime e foi andando até a cidade de Confresa, chegou ao hospital e solicitou atendimento médico, porque estava com um corte na mão e outro na testa. Ele alegou que tinha sido vítima de uma tentativa de roubo.

O suspeito foi encaminhado para a delegacia para prestar depoimento e confessou o crime. Ele foi preso em flagrante por homicídio qualificado, por motivo fútil e cruel. A prisão em flagrante foi convertida para preventiva. Na sentença, o juiz escreveu que a intolerância não deve e não será admitida. O autor está preso em Porto Alegre do Norte (MT).

Os policiais encontraram a faca e o machado e outros elementos que apontavam para o suspeito no local do crime.

O irmão de Benedito o descreveu como uma pessoa alegre e tranquila. O sepultamento ocorreu em Santana do Araguaia (PA).

Repercussão
Pelas redes sociais, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, lamentou o assassinato, a facadas, de um simpatizante petista durante discussão com um bolsonarista.

“É com muita tristeza que soube da notícia do assassinato de Benedito Cardoso dos Santos, na zona Rural de Confresa. A intolerância tirou mais uma vida. O Brasil não merece o ódio que se instaurou nesse país. Meus sentimentos à família e amigos de Benedito”, disse Lula por meio de uma rede social.

O candidato à reeleição pelo PL, Jair Bolsonaro, não se manifestou sobre o crime.

Já a diretora para as Américas da ONG Human Rights Watch, Juanita Goebertus Estrada, declarou que “todos os candidatos deveriam condenar energicamente o assassinato de Benedito Cardoso dos Santos e quaisquer atos de violência política, intimidação ou ameaça no período eleitoral”.

 

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